Produção do Paraná já sente efeitos de tarifaço de Trump
Mesmo antes de entrar oficialmente em vigor, a taxação de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros já provoca efeitos negativos em setores produtivos do Paraná. A medida, prevista para começar em 1º de agosto por determinação do presidente Donald Trump, afeta diretamente as exportações do estado, especialmente as de madeira processada.
Segundo a Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), empresas paranaenses já sofrem com o cancelamento de contratos, devolução de cargas, paralisação de linhas de produção e concessão de férias coletivas. Em 2024, as exportações de madeira do Brasil para os EUA somaram US$ 1,6 bilhão — cerca de 60% desse valor foi gerado por indústrias paranaenses.
Ao lado de Santa Catarina, o Paraná abastece cerca de 90% do mercado norte-americano de madeira processada, cuja principal demanda vem da construção civil. Com o novo imposto, o setor teme demissões em massa. Aproximadamente 180 mil empregos estão em risco no país, sendo 40 mil apenas no Paraná.
A BrasPine, uma das principais indústrias do setor, colocou 1,5 mil dos seus 2,5 mil funcionários em férias coletivas nas unidades de Jaguariaíva e Telêmaco Borba. Segundo a empresa, a medida é uma forma de enfrentar a perda de competitividade em relação a outros países, cujas tarifas variam entre 10% e 20%. “É uma medida estratégica para proteger empregos e garantir a continuidade da empresa”, afirmou o CEO Eduardo Loges.
Setor pede ação rápida do governo
O superintendente da Abimci, Paulo Pupo, alerta que o cenário pode piorar. Se os Estados Unidos mantiverem a taxação, há risco de demissões após o fim das férias coletivas. Ele informa que há 1,1 mil contêineres parados nos portos brasileiros e outros 1,4 mil a caminho dos EUA, que podem ser taxados no desembarque. “A taxação tira o setor madeireiro brasileiro do jogo”, afirmou.
Para Pupo, encontrar novos mercados de forma rápida é improvável. Além disso, o Brasil enfrenta desvantagem competitiva diante de países como o Chile, que têm tarifas menores. “Não basta reduzir a taxa brasileira. É preciso equipará-la às tarifas praticadas com outros países exportadores”, defendeu.
Outras cadeias produtivas também sofrem impactos
Além da madeira, o tarifaço afeta outros setores importantes da economia paranaense, como o agropecuário e o pesqueiro. De acordo com a Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), seis grupos de produtos — café, couro, carne bovina, pescados, produtos sucroalcooleiros e agroflorestais — representam mais de 60% das exportações do estado, movimentando cerca de US$ 1,5 bilhão.
A carne bovina, por exemplo, que corresponde a 20% das exportações brasileiras aos EUA, também poderá perder competitividade. O presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Marcelo Janene El-Kadre, destacou a queda do preço da arroba brasileira frente à americana e alertou para o risco de excedente no mercado interno. “Temos uma pecuária de altíssimo nível que vai sentir a pancada do aumento dos custos com a instabilidade do câmbio”, avaliou.
No setor de pescados, que também depende do mercado americano, há preocupação com a perda de espaço para concorrentes com tarifas mais baixas. “Muitas toneladas deixaram de ser embarcadas. Isso gera desperdício, prejuízos e ameaça empregos”, afirmou Valério Angelozi, presidente da Associação Peixe Paraná. O estado é o maior Desde o anúncio da medida em 9 de julho, o governo federal tem buscado negociar com a Casa Branca. Duas cartas foram enviadas aos EUA e o vice-presidente Geraldo Alckmin já se reuniu com mais de 120 empresários para discutir alternativas. Apesar do esforço, o setor produtivo cobra mais agilidade e ações diplomáticas mais firmes.
A Abimci, uma das entidades participantes do comitê criado pelo governo, também busca apoio junto aos clientes norte-americanos, reforçando que o Brasil não ameaça a indústria local. “Pedimos que a diplomacia atue para remover o caráter político dessa medida”, disse Pupo.
Marcelo El-Kadre também defendeu o envio de uma força-tarefa brasileira aos EUA. “Trump quer mostrar superioridade e pressionar o mundo por causa de uma dívida impagável. É uma ação política e descabida”, criticou.
A expectativa, segundo representantes dos setores afetados, é que as negociações se intensifiquem nas próximas semanas. “Precisamos que os dois governos reconheçam a importância do setor produtivo e encontrem uma solução antes que os impactos se tornem irreversíveis”, concluiu Angelozi.