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Café se torna 1º estádio público do Brasil com espaço para torcedores autistas
09 Jan
Emerson Dias

Café se torna 1º estádio público do Brasil com espaço para torcedores autistas

Com o objetivo de tornar o Estádio do Café um ambiente ainda mais acolhedor, acessível, inclusivo e agradável ao público, a Prefeitura de Londrina, por meio da Fundação de Esportes (FEL), apresentou nesta sexta-feira (6) o novo espaço reservado especialmente para pessoas com autismo e seus familiares no local. A área preferencial, uma iniciativa inédita em espaços esportivos da cidade, vem para acomodar esses torcedores em um lugar preparado para oferecer mais conforto e segurança durante os jogos e eventos realizados no Café.

Inicialmente, estão sendo disponibilizados 20 assentos no setor coberto de cadeiras cativas. A faixa reservada para os torcedores com autismo deve ficar localizada na parte superior esquerda, próximo às escadas de entradas e saídas, e também aos banheiros e cantinas, atendendo aos ocupantes e seus acompanhantes. Os assentos serão sinalizados com um adesivo que indica a prioridade de uso, e ainda há a possibilidade de que sejam pintados pela CMTU com uma cor diferente das demais para facilitar a delimitação.

A intenção é que o novo espaço acolhedor do Estádio do Café esteja pronto para receber a torcida já na partida de estreia do Tubarão no Campeonato Paranaense 2023, que será realizada no dia 15 de janeiro, um domingo, às 16h. O adversário será o Azuris, clube de Pato Branco.

O diretor-presidente da FEL, Marcelo Oguido, realizou o anúncio no próprio gramado do estádio, juntamente com o diretor-presidente da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Marcelo Cortez, que representou o prefeito Marcelo Belinati (PP), e com Matheus Dantas, fundador da Torcida Tubautistas — primeiro grupo de torcedores voltado para este público — e idealizador do projeto de criação do espaço exclusivo para pessoas autistas.

Além das cadeiras preferenciais, os ‘tubautistas’ também terão à disposição fones antirruídos para aqueles torcedores autistas que possuem hipersensibilidade auditiva poderem assistir aos jogos mais tranquilamente. O equipamento será ofertado em parceria com o Londrina Esporte Clube.

Para o diretor-presidente da FEL, Marcelo Oguido, a iniciativa da torcida para autistas, bem como a disponibilização de uma área especial no estádio, representam mais inclusão, conscientização e respeito, valorizando um dos espaços mais emblemáticos de Londrina. “Após recebermos do Matheus, fundador da Tubautistas, a ideia do projeto, buscamos analisar qual o melhor local do Café para acomodar essas pessoas, com o devido conforto e segurança. Será uma forma de acolher qualquer pessoa com autismo e suas famílias, para que possam assistir aos jogos e se divertir em um local adequado, com menor volume de torcedores, menos barulho e em área da fácil acesso e saída. Desejamos que, aos poucos, mais e mais torcedores autistas sintam-se à vontade no estádio e esse tipo de espaço inclusivo seja criado em outros equipamentos esportivos e de lazer do Município”, comentou.

Recentemente, conforme Oguido, o Café recebeu uma obra de acessibilidade voltada para pessoas com deficiência física, visual e cadeirantes. As ações incluíram implantação de áreas com guarda-corpos, reservadas e sinalizadas, corrimãos com braile e outras adequações nas arquibancadas

O idealizador da Tubautistas, Matheus Dantas, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), é torcedor fanático do Londrina e começou a frequentar o Estádio do Café ainda com 12 anos de idade junto ao pai, quando vieram para a cidade. Ele contou que a ideia de criar a torcida, iniciada no final de 2022, surgiu após ter assistido a um jogo do Corinthians, quando viu a faixa de uma torcida de autistas do clube paulista (a “Autistas Alvinegros”) que o inspirou a formar o projeto. Com 27 anos de idade, Dantas foi diagnosticado com TEA tardiamente, apenas em 2022, após indicações médicas a partir de terapia e acompanhamento psiquiátrico .

“Me interessei muito sobre esse movimento de torcedores autistas nos estádios e busquei ver o que seria necessário para implantar essa iniciativa em Londrina, em prol do público com autismo e suas famílias. É uma forma de dar visibilidade ao assunto, mostrar o que é o autismo, e tudo isso passa também pela minha própria percepção e meu diagnóstico, sobre como lidei com isso e fui me descobrindo nesse processo, que não é tão simples, respeitando minhas condições e características e querendo ajudar outras pessoas. Há diferentes níveis de autismo, o espectro é muito amplo, cada indivíduo autista é diferente um do outro e tem suas características, como qualquer outra pessoa”, contou o torcedor do Alviceleste.

Dantas disse que, para ele, dentro de seu perfil, nunca foi uma dificuldade frequentar o Estádio do Café. “Muito pelo contrário, sempre foi motivo de prazer e diversão, mas para outros pode haver muitas barreiras e situações adversas, seja pelo ambiente, limitações de interação, hipersensibilidade ao som ou luminosidade, entre outros fatores. Para chegar até a Tubautistas, pensei muito em quantos pais e mães não possuem esse desejo de trazer seus filhos para ver um jogo, comemorar um gol e aproveitar os momentos de alegria que o futebol proporciona, mas não tem coragem por conta do espectro autista. Cheguei à conclusão que deveria tentar chamar atenção para o tema, abrir as portas e tentar acolher mais torcedores, trazê-los para o estádio”, enfatizou.

O Estádio do Café será o quarto do país a aderir à inclusão para torcida autista. Os outros estádios com área reservada para autistas são o Estádio Major Antônio Couto Pereira, em Curitiba; a Neo Química Arena, em São Paulo; e o Estádio Eládio de Barros Carvalho, o popular Estádio dos Aflitos, em Recife.

O fundador do projeto ainda disse que os estádios de futebol precisam se adaptar para comportar esse modelo de torcedor, trazendo mais bem-estar a todos. “Não quero deixar que o autismo limite as pessoas, sabendo que muitas podem usufruir de um espaço como este, então quis levar até a Fundação de Esportes a ideia, que foi prontamente aceita e incentivada. O autismo é pouco conhecido e falado, muitos pensam que se trata apenas de algo limitador e envolvendo pessoas com problemas, existem casos mais acentuados, é claro, mas todos têm o direito de se divertir, ter lazer e opções, ver o futebol. Levantamos o debate e estamos tentando valorizar este público”, concluiu Dantas.

O diretor-presidente da CMTU, Marcelo Cortez, disse que a acessibilidade a diferentes perfis de torcedores deve ser uma preocupação do poder público. “É necessário conscientizar a população, estimular os diálogos e criar condições para que um público diversificado possa ter as mesmas condições e oportunidades. Tenho uma sobrinha com autismo e sei como cada progresso dela é uma alegria, pretendo levá-la a um jogo do Tubarão no Café. Outros locais públicos também precisam se adaptar para dar mais abertura seja às crianças, adolescentes, adultos ou idosos. É preciso compreender cada perfil para podermos progredir. Este é o caminho”, avaliou.

Primeiro encontro

Neste sábado (7), a partir das 16h, será realizado o primeiro encontro organizado pela Tubautistas em Londrina, na Praça Nishinomiya, ao lado do Aeroporto. Aberto a todo o público e convidando as pessoas com autismo e familiares, o evento terá a participação de entidades parceiras do grupo, ponto de informações sobre o autismo, pipocas e doces, sorteio de brindes e a presença do personagem Power Ranger Alviceleste, figura que sempre marca presença nos jogos do Tubarão. A equipe de Futmesa (futebol de botão) do Londrina Esporte Clube também estará presente animando as crianças e todos os participantes.

Torcida agregadora – Devidamente trajada com o uniforme da nova torcida alviceleste, a Tubautistas, Renata Dantas, esposa de Matheus Dantas, criador do grupo, também participou do anúncio do novo espaço no Estádio do Café. Há mais de sete anos com ele, a servidora municipal contou que também assiste aos jogos do Tubarão desde a infância, destacando a importância do projeto.

A principal proposta da torcida é estimular a conscientização, promover união, a quebrar tabus, romper barreiras e preconceitos. Falar abertamente sobre o autismo pode ajudar muitas pessoas e famílias e o estádio só tem a ganhar com isso. A torcida terá faixa, camisetas e também carteirinhas para quem desejar participar e assistir aos jogos conosco”, disse ela.

A professora Meire Anne Teodoro, da Educação Especial do CEEBJA Herbert de Souza, na região central de Londrina, está incentivando alunos a conhecer o projeto da Tubautistas e o Estádio do Café. “O Matheus foi até a escola e apresentou o projeto, falando sobre o novo espaço no estádio. Uma aluna nossa, a Ana Carolina Violino, de 17 anos, que tem TEA e baixa visão, foi pela primeira vez ao Café, entrou no gramado e adorou a experiência. Ela quer ir a um jogo do Londrina para sentir a emoção do jogo, ficou com muita vontade e vamos tentar viabilizar isso com sua família. É uma iniciativa grandiosa, tanto no social como na área educacional, merecendo ser reconhecida. Atender às particularidades do público autista é uma ação inclusiva, admirável e as instituições educacionais devem e certamente vão incentivar”, frisou.

Já a enfermeira Kaisa Sanches Dalan, da Clínica TEamo – Centro de desenvolvimento para autistas, informou que a instituição já é parceira do projeto Tubautistas. Ela tem um filho autista de cinco anos de idade, o Daniel Dalan, apaixonado por futebol e que visitou, pela primeira vez, o Estádio do Café, brincando de bola e correndo pelo gramado.

“A intenção é dar respaldo e suporte de orientações e informações a quem precisar, tudo baseado em evidências científicas comprovadas. Daremos apoio profissional a este público e suas famílias, seja na questão dos jogos no estádio, em espaços e eventos públicos, entre outras ocasiões. Queremos levar o Daniel aos jogos do Londrina, e ter trazido ele antes de uma partida para valer, só com o estádio vazio, é uma forma de ele ter a dimensão do que é o espaço, o que pode facilitar sua experiência em um jogo, como ele vai ficar nas arquibancadas”, analisou,

A TEamo, segundo Dalan, atua com uma equipe multiprofissional, envolvendo enfermagem, psicologia, psicopedagogia, terapia ocupacional, musicoterapia, fonoaudiologia e psicomotricidade.

Créditos: Tem Londrina

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